Somos três professores/investigadores brancos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), na área de Educação Artística que, nos últimos anos, temos vindo a trabalhar no ensino e na investigação a partir de lentes anti-discriminatórias e pós-coloniais. Através destas lentes, procuramos entender as colonialidades na educação artística, questionar a nossa branquitude e transformar as nossas práticas.

Em 2023, começamos a tentar utilizar estas lentes sobre o nosso próprio lugar de trabalho com pessoas de dentro e fora da academia. Numa formação em Educação Antiracista promovida pela EducAR e orientada por Danilo Cardoso, começamos a recolher algum material sobre o espaço edificado da FBAUP com o objectivo de produzir uma zine. A tentativa de organizar este tipo de materiais e outros que temos vindo a produzir em torno desta problemática, levou-nos à experimentação do research catalog como uma hipótese de arquivo em desenvolvimento sobre o Lugar da FBAUP.
A partir deste arquivo pretendemos reunir materiais que nos permitam compreender e denunciar violências e desigualdades que estão hoje presentes na FBAUP. Exemplo disso, são por exemplo as elevadas propinas que pagam estudantes do Brasil e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), apesar deste lugar ter sido construído por pessoas que enriqueceram à custa de extractivismo e da escravatura. Dividimos o espaço em duas partes, uma mais histórica, em que organizamos materiais desde a aquisição do espaço e, uma mais contemporânea, na qual dispomos materiais da actualidade. Na primeira procuramos identificar e fazer um levantamento de figuras, suas proveniências e laços familiares, de modo a tecer a rede de relações entre proprietários. As actividades profissionais que os suportam elucidam sobre a proveniência dos fundos de aquisição dos bens que foram compondo os imóveis da actual FBAUP. Enquadrados numa cultura colonial, alguns interesses que se destacam, nomeadamente em torno das espécies botânicas, informam sobre a construção do jardim da faculdade. Este, hoje feito espaço de lazer estético e de visita aberta acessível ao público em geral, faz a ponte com a segunda parte, de visão mais contemporânea sobre o património da faculdade. É nesta parte que procuramos organizar as incidências do presente sobre aquele lugar, trazendo investigação produzida por nós, em que participamos, ou com a qual nos cruzamos. É também neste mapa mais actual da propriedade da FBAUP que escolhemos dispor as denúncias necessárias e urgentes, informadas pelo estudo genealógico em curso, e norteadas por uma perspectiva de reparação. Ao mesmo tempo que reunimos e experimentamos estes materiais, mostramos o trabalho em desenvolvimento usando esta exposição como plataforma de discussão pública das problemáticas que atravessamos, numa procura de políticas e acções anti-discriminatórias e reparativas.