CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência de sensibilização sonora que vivenciamos, trouxe reflexões acerca da escuta sensível do ambiente urbano, especificamente do espaço religioso, caracterizado pela Igreja Matriz de São Bernardo. Normalmente observamos os aspectos visuais da cultura, mas não damos a devida atenção à paisagem sonora tão presente no cotidiano das cidades. Convergir os recursos poéticos – o canto do hino, o som do sino, os sons do ambiente, as setas poéticas - com a prática de escuta e diálogo, permitiu que cada sujeito envolvido nas ações pudesse ampliar suas percepções e sensações sobre os sons presentes no espaço em destaque. Perceber as diferentes sonoridades, nos leva a reconhecer que cada ambiente é marcado por sons específicos que aguçam a memória sonora, sensorial e afetiva. Experienciar a escuta sensível amplia novos horizontes de reflexão e estende o olhar sobre novas perspectivas de pesquisas e práticas voltadas para as paisagens sonoras.
Os participantes ouviam o sino tocar e as setas os guiavam até um dos componentes do grupo que cantava trechos do hino do padroeiro São Bernardo. Esse percurso serviu como um roteiro de sensações, guiando o público de forma subjetiva e não-linear, estimulando emoções e reflexões.
Ao final do percurso, os participantes eram convidados a formar um círculo, fechar os olhos e, em total silêncio, ouvir a paisagem sonora do local. Este foi o ponto culminante da experiência, reforçando a importância da escuta ativa. Os membros do grupo imitavam sons que se misturavam aos sons do ambiente. O objetivo era aguçar a percepção auditiva dos participantes para que percebessem a diferença entre os sons naturais e os sons imitados, aprofundando e elevando a experiência de “apenas ouvir” para a de “ouvir para compreender” a complexidade sonora do espaço.
INTRODUÇÃO
A experiência de sensibilização evidenciou a paisagem sonora como expressão cultural, por meio de recursos poéticos e performáticos que provocassem uma escuta ativa. Mais do que ouvir, tratava-se de experimentar o som como porta de entrada para compreender relações sociais e afetivas, permitindo que os participantes se percebessem como parte dessa tessitura sonora. Nesse processo, a escuta não foi tomada como exercício passivo, mas como prática de atenção e de abertura para perceber as nuances do espaço, os sons imitados e os sons ambientais, articulando memória, sensibilidade e presença.
TRAÇADOS METODOLÓGICOS DA EXPERIÊNCIA
Nosso processo de intervenção artística foi cuidadosamente articulado em cinco fases interligadas, que nos guiaram desde a concepção à materialização da ação.
Escolhemos o sino como elemento inicial da intervenção artística. Seu som, que evoca a tradição da Igreja Matriz, seria ressignificado para além de sua função religiosa. Ele funcionaria como um convite à participação, transformando o público em parte de uma experiência sonora e de uma nova forma de interação com o espaço.
Fase 1: Escolha do Espaço
Fizemos a escolha do local para a intervenção artística. Optamos pela Igreja Matriz de São Bernardo-MA, não por acaso. A igreja é um ponto central da cidade, um local com um fluxo de pessoas relativamente alto se comparado a outros pontos da cidade. É também um espaço sagrado e um ponto de encontro cultural, que dispõe de uma paisagem sonora rica e diversificada, tornando a experiência mais significativa.
Fase 2 – Mapeamento de Ideias e Conceituação
Após a escolha do local de intervenção, o processo criativo teve início com uma sessão de brainstorming. Nossa equipe criou um mapa mental para registrar todas as ideias, por mais abstratas ou incomuns que pudessem parecer. A premissa foi de que nenhum conceito deveria ser descartado, pois o objetivo era gerar o maior volume possível de informações e conexões. Nesse caso, a orientação era de que fôssemos dormir e acordar com a ideia definitiva para que no dia seguinte colocássemos no mapa mental. A categorização das ideias foi deixada “descansando” por pelo menos um dia. Essa técnica permitiu que a equipe se distanciasse do material e retornasse a ele com uma nova perspectiva, favorecendo a emergência de novos insights e conexões, sem estabelecer hierarquias entre as ideias.
Fase 3 - Reflexão e Afinação Poética
A partir de reflexões subjetivas e objetivas, surgiu a ideia de utilizar a fragmentação poética do hino de São Bernardo, o padroeiro local, por meio de “setas poéticas”.