30 minutos de matéria constitui uma exploração do conceito de “laboratório de tempo”. A obra consiste numa projeção em tempo real, à escala humana, da decomposição física de uma imagem impressa em papel não absorvente. A tinta, ao não ser fixada no suporte, escorre lentamente durante trinta minutos, enquanto um som ritmado marca o passar dos segundos. A imagem, dissolve-se diante do olhar do espectador.
A imagem tem como base uma figura do foro do quotidiano familiar, onde se observa uma criança dormir. Um momento de contemplação, maravilhamento pela beleza da vida e o tentar recordar de uma imagem específica na memória individual. Este gesto procura criar uma experiência de presença e atenção. A obra propõe-se como uma contra-imagem, uma resistência à lógica da aceleração, da obsolescência visual e da sucessão instantânea de estímulos.
A sua duração, trinta minutos contínuos, convida o observador a entrar num outro ritmo de observação, abrindo espaço à contemplação do desaparecimento e à ativação de ritmos perceptivos internos.
Mergulho em Apneia parte da decomposição prolongada de fotografias ao longo de dois anos. Ao contrário da decomposição em tempo real de 30 minutos de matéria, aqui as imagens foram deixadas à ação do tempo físico e ambiental, sem qualquer mediação tecnológica, permitindo que a deterioração da tinta e do papel se acumulasse lentamente. O resultado é um conjunto de imagens quase irreconhecíveis, manchadas, cujos contornos apenas sugerem memórias visuais difusas.
As imagens de base pertencem a um universo pessoal e familiar, sendo algumas provenientes de arquivo, outras mais recentes. Contudo, no seu estado atual, estas imagens funcionam mais como vestígios do que como representações, são imagens que evocam aquilo que já não se consegue recuperar.
O título do ensaio Mergulho em Apneia retoma a metáfora náutica proposta por Hans Blumenberg em Naufrágio com Espectador(1979), reinterpretada aqui como convite à imersão no tempo, no erro e no acaso. A imagem já não é um dispositivo de controlo do visível, mas um corpo submerso, sujeito às forças da transformação lenta. A decomposição torna-se um estado intermédio entre presença e desaparecimento, entre memória e esquecimento.
Imagem sob Imagem propõe um colapso de diferentes tempos num único plano visual, questionando os limites da representação fotográfica linear.
A foto-instalação consiste na sobreposição de várias camadas da mesma imagem, captadas em diferentes momentos do seu processo de decomposição. Essas camadas são pousadas sobre painéis de luz LED programados. A luz, intermitente e aleatoriamente ritmada, revela ou oculta determinadas zonas da imagem, criando uma instabilidade perceptiva que oscila entre visibilidade e apagamento.
Neste gesto, a imagem já não se apresenta como unidade coerente, mas como palimpsesto temporal, onde cada camada contém um fragmento da sua transformação. A oscilação da luz, que acende e apaga zonas específicas da imagem, funciona como analogia visual para o funcionamento da memória: não contínua, mas descontínua; não estável, mas intermitente; não arquivável, mas em constante resgate.














