O que fica no porto

 

O que resta ao náufrago é sua completa reinvenção perante as novas condições de sua vida. A ligação com os homens que permanecem em terra firme alimenta a mente com memórias de um local ilusoriamente estável. Sua esperança é tocar a margem depois da navegação aleatória e descontrolada, compartilhando as aventuras vividas. Entendo que exista uma ligação mental conflituosa do náufrago, que vive entre o descontrole da deriva e o sonho da estabilidade; e os outros que deixou para trás, que permaneceram em terra firme.

Miragens de uma ilha deserta.

  

No meu desespero, tento tocar em tudo que posso ver e ouvir. Teço longos diálogos com as paredes mudas do quarto, vago por todos os labirintos possíveis, crio longas conversas com os ausentes. Quando esbarro nos muros intransponíveis, imagino os acontecimentos que residem do outro lado das largas paredes da cidade. Preencher os vazios de cá com meus ruídos, meus cheiros e meus desejos é a forma que encontro de inventar uma delirante forma de conexão.