“Corpo Híbrido. Ato de vestir e despir o efémero” (2025)
Performance de Ana Sousa Santos
Vídeo de Daniel Sorrentino

A performance “Corpo Híbrido. Ato de vestir e despir o efémero” (2025), procura refletir sobre conexões simbioticas entre seres. Com a roupa coberta de germinados de chia, os quais durante três semanas cresceram e cobriram parcialmente as meias de vidro, transformando-as numa segunda pele viva, realizou-se um conjunto de ações performativas em ambientes florestais, explorando os limites entre o humano e o vegetal. Com o vestir-se de germinados, veste-se o efémero, e o corpo funde-se com o elemento vegetal, uma transformação num ser híbrido,habitante da fronteira entre dois mundos. O corpo transforma-se em paisagem, enquanto a paisagem o acolhe. As ações de camuflagem do corpo em folhagens, nos musgos, nas sombras das árvores, exploram a dualidade de estar presente e estar ausente simultaneamente.






"Corpo, tempo e matéria:

considerações sobre o vídeo criado para a exposição de Ana Sousa Santos


A obra audiovisual apresentada é fruto de uma colaboração sensível com a performance de Ana Sousa Santos, intitulada Corpo Híbrido: ato de vestir e habitar o efémero, na qual a artista utiliza um traje concebido por ela própria, composto por tecido que abriga plantas germinadas. Este corpo-vestimenta, híbrido e transitório, articula uma dimensão simbólica entre o humano e o vegetal, dissolvendo fronteiras entre sujeito e ambiente. 


O vídeo foi estruturado com o tempo invertido, recurso formal que não apenas altera a lógica narrativa, mas reposiciona o espectador diante de uma temporalidade não-linear. Tal inversão atua como metáfora para o ciclo vital: um retorno à origem, à natureza, àquilo que precede e também sucede o corpo. O gesto performático, ao ser lido de trás para frente, propõe um deslocamento perceptivo que desestabiliza a ideia de progresso contínuo, remetendo antes a um tempo circular, ancestral, que ecoa processos de germinação e decomposição. 


A composição sonora, concebida especificamente para esta peça, funciona como camada imersiva e envolvente. Os timbres e texturas sonoras operam como uma extensão sensorial da matéria vegetal que recobre o corpo da artista. Ao criar uma ambiência que simula uma membrana, uma pele acústica,  o som convoca o espectador a habitar esse corpo expandido, onde o tempo parece germinar em lentidão.


Assim, som e imagem articulam-se como elementos de uma experiência estética que convida à contemplação do efêmero e do orgânico. Ao invés de narrar uma ação, o vídeo propõe uma escuta e uma observação dilatadas, onde o corpo se faz solo, superfície e semente de uma poética do retorno."



Texto de Daniel Sorrentino