“ ‘Membranas para Conectar’ ” reúne uma série de experimentações de Ana Sousa Santos que expandem a definição de membrana. A membrana é uma ideia, um material e um gesto entre o eu e o outro, o corpo e o ambiente, o humano e o não humano. Nesta exposição, surge como um espaço de transição, um limiar tátil que pode ocultar, revelar e separar. É uma superfície onde identidades se reconfiguram, onde a transformação ou a transição se tornam possíveis.
Essas obras não ocultam na totalidade, mas sim convidam ao toque e à experiência. Estão vivas, são permeáveis e instáveis. A exposição apresenta uma contra-proposta radical: um mundo onde barreiras se tornam pontes, onde as peles não isolam, mas conectam, e onde o ato de camuflar-se transforma-se num gesto de cuidado.
Inspirada por autoras e autores como Donna Haraway, Rebecca Schneider e Umberto Eco, as obras propõem novas formas de pensar a conexão e a coexistência através de esculturas vivas, materiais biodegradáveis, ações performativas e instalações sensoriais. Tornam-se metáforas de cada fronteira que filtra e sustenta tensões. Em todas as obras, encontramos um espaço de relação entre o eu e outras espécies, entre visibilidade e invisibilidade. As obras não são monumentos a serem observados à distância, mas sim presenças a serem sentidas e utilizadas. Trata-se de reimaginar os nossos limites, não como fronteiras ou barreiras, mas como limiares vivos, onde novas relações e conexões podem florescer.
Sinopse da exposição
texto de Heper Sayar
Registos, experiências e metodologias (quadro de estudos).
Conjunto de estudos visuais que documentam o processo experimental. Os registos incluem negativos de texturas naturais, testes com plásticos biodegradáveis, explorações de negativos e positivos ou fotografias que integram elementos ao corpo. Cada elemento revela uma metodologia de experimentação, onde os estudos funcionam como um espaço de pensamento visual em construção, revelando caminhos, tentativas, erros e acasos que compõem a base do trabalho desenvolvido.
“Camisola de germinados de chia”
Material: Camisola de tecido de lycra, sementes e germinados de chia
Camisola de lycra, coberta por rebentos de chia germinados, dá continuidade à pesquisa iniciada na performance “Vestir o Efémero”. O tecido torna-se suporte de matéria viva, criando uma segunda pele em constante transformação. A presença dos germinados evoca ciclos de crescimento e decadência, ativando o corpo como território transitório. A peça carrega em si a impermanência do gesto performativo, preservando vestígios de um tempo que insiste em desaparecer, convidando à reflexão sobre o efémero como forma de presença.
“Vestígios do ato de vestir o efémero”
Material: Sacos de plásticos em vácuo, tecido de lycra, sementes e germinados de chia
Sinopse:
Estudos de fragmentos de roupas em lycra cobertas com rebentos de chia germinados. Os elementos vivos crescem e morrem sobre o tecido, criando uma pele híbrida entre o orgânico e o artificial. Posteriormente, são selados em plásticos de vácuo, num gesto de preservação e contenção do efémero. Através desta manipulação, explora-se a tensão entre vida e permanência, corpo e memória, propondo uma reflexão sobre os limites do orgânico e as tentativas de controlar o tempo e a transformação da matéria.
“Tapete Mágico”
Duração video: 15:48’
Sinopse:
Uma ação performativa ocupa o espaço público com um tapete de 2x3 metros, coberto por uma densa camada de rebentos de chia germinados. Através da camuflagem de elementos urbanos, a intervenção propõe uma fusão entre o natural e o construído, questionando as fronteiras entre corpo, paisagem e arquitetura. A matéria viva do tapete ativa o espaço, transformando-o temporariamente num terreno fértil, frágil e em constante mutação. O gesto performativo revela uma presença silenciosa, quase invisível, que se inscreve no ambiente e convida à reflexão sobre permanência, cuidado e invisibilidades no cotidiano.