I. Instrução para ação a.

 

 

 

Desenho como instrução

I. Instrução para desenho b.

 

 

 

I. Instrução para desenho a.

 

 

 

I. Instrução para ação b.

 

 

 

Revisão reflexiva

 

A instrução que escrevi tem um caráter minucioso e fazível. No entanto, senti que houve uma expectativa que não foi cumprida: chover. Este elemento em falta, apesar de inicialmente ser fonte de dúvida para a possibilidade de execução, fez-me entender que não era um fator impeditivo para a cumprir, apenas para a cumprir como eu esperava ou desejava. Foi bom desapegar do desejo que coloquei no outro acerca da maneira como iria realizar a minha instrução. Para além da minha expectativa sobre a execução da instrução, o elemento da chuva estar em falta, trouxe um caráter de impossibilidade à mesma, que por sua vez criou um caráter de experimentação pensativa e prática. Como refere Mike Sperlinger, "Muitas vezes as instruções são 'experiências de pensamento'". 1 A instrução foi escrita de forma descritiva, apesar de conter sempre abertura a interpretação. A suposta impossibilidade que surge da chuva abriu um campo de possibilidades novas que foram pensadas pela pessoa que recebeu a instrução, oferecendo-lhe uma maior área de abertura e autonomia. Isto põe em causa a sua autoria: se é do tempo, da pessoa que realiza ou da pessoa que diz para realizar.


A Matilde pôs-se em busca de água por variadas superfícies: cadeiras, folhas de árvores, um barco kayak, canos, poças,... Senti a certo ponto que era uma jornada dupla, entre o executar dela e eu arranjar maneiras de registar, filmando e fotografando. Esse ato de registar passou a ser de alguma forma algo performativo que acompanhou também a busca por água. As decisões dela levaram-me a vários sítios, onde pude contemplar coisas em que ainda não tinha reparado sobre o espaço onde nos encontrávamos. Isso, por si, é algo que dá um sentimento de realização à própria instrução, neste caso por mim.
Houve momentos em que duvidei de estar a existir tanta atenção e paciência como eu previa em cada momento de recolha e observação. Apesar disto, ambas recolhemos pedaços de atenção: ela ao procurar, observar e registar (através do desenho e da palavra); eu ao ser guiada pelas escolhas de percurso, lugar e tempo de atenção dela e também, ao realizar registos.


Sperlinger cita uma entrevista de Yoko Ono, em que ela fala da relação de um trabalho de casa que recebeu na escola, em que era suposto ouvir o som do dia e traduzir cada som para notas musicais. "This made me into a person who constantly translated the sounds around her into musical notes as a habit." 2 Na minha instrução, esta ideia está intencionalmente presente: o fenómeno em que um gesto que se faz repetidamente durante um determinado período de tempo se torna um hábito intrínseco à maneira como se está e vê o mundo. A proposição de olhar um gesto com tempo, cuidado e paciência é uma proposta ao olhar o mundo assim mais vezes, no dia-a-dia. Tal como Mike Sperlinger afirma na passagem: "In its solipsistic aspect, as a series of prompts for the audience to break off from habitual ways of perceiving the world".3

A minha instrução para um desenho tem o mesmo caráter de propor uma visão e ação realizada de outra forma da qual é hábito comum. Em adição, é mais provocativa ao propôr que alguém registe a sua queda através do desenho, caindo e registando o antes, durante e depois da queda. Esta abre um espaço maior, devido à sua forma simples - sem nenhum texto descritivo que explique como ou quando realizar. 


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Sobre a instrução que realizei e a Matilde criou, senti que cumpri. O momento em que senti que estava a ir além do enunciado foi quando andei em cima das cadeiras, percorrendo o percurso do desenho do barco. No entanto, senti que esse gesto foi uma espécie de sublinhar do desenho, apesar de não estar proposto no enunciado da instrução. Soube bem executar esse pequeno romper. 

Acerca da autoria desta ação, penso que foi de ambas também.





 

 1Sperlinger, Mark. Orders! Conceptual Art's Imperatives. Abril, 2005. P 9, l.
19
 2Sperlinger, Mark. Orders! Conceptual Art's Imperatives. Abril, 2005. P10, ll
. 18-35
 3Sperlinger, Mark. Orders! Conceptual Art's Imperatives. Abril, 2005. P11, ll. 4,5