Partindo da proposição ‘fazer do sofá o ateliê-forte’, desconstrui o espaço do sofá
(e o espaço em volta) de modo a tornar um lugar quotidiano, onde se descansa
ou convive, num espaço de criação. A ideia surgiu de uma memória de infância,
em que fazia do sofá um forte, mudando a disposição das almofadas. Daqui pensei
que poderia ser um desafio curioso pegar na ideia de forte enquanto um lugar
protegido e associá-la não só ao sofá, como ao ateliê.

Primeiro cobri o espaço com papel e usei as cortinas para criar o efeito de tenda ou forte. Depois procedi a trazer materiais e objetos: uns que tenho no ateliê, outros que me interessaram no momento. Aqui surgiu uma questão: o que faz de um espaço um ateliê?
Pensei que um ateliê não se define necessariamente pelos objetos que contem mas sim por
ser um espaço onde as coisas se mexem e transformam. Por isso brinquei com objetos,
formas e gestos. O registo fotográfico existiu enquanto parte da ação, ao escolher o quê
e como queria registar.

No workshop da aula, intuitivamente transferi gestos da ação para a própria documentação, repetindo alguns gestos que realizei na ação sobre os próprios documentos, nomeadamente: envolver algo em plástico (na ação um cilindro de acrílico / na re-documentação uma imagem e um desenho), cobrir o canto de uma mesa com papel (na ação fita cola de papel /na re-documentação desenhos e uma imagem impressa) e também uma forma: o cilindro de acrílico / o mapa do espaço enrolado. Além disto, construí novas formas sobre as imagens que tinha, através da colagem, desenho
e junção de imagens. 

Ao realizar a montagem das imagens documentais do seminário no Research Catalogue,
senti que inseri outra camada de documentação, sublinhando e criando ligações
de semelhança, conexão, complementaridade e profundidade através da sua disposição.
Foi bastante interessante criar esta sequência de ligações sobre a documentação toda. 

Embora tenha entendido o documento como um suplemento da ação (a partir de Philip Auslander) a sobreposição de documentações fez-me crer que a partir do momento
em que re-documentei o documentado, estava a construir algo novo que se encontra num limbo entre a ficção e a realidade- um espectro (a partir de Derrida). Na verdade, também na realização da ação me senti num espectro, devido à existência do gesto
de fotografar. Podia ter realizado uma documentação mais neutra, gravando numa posição fixa, mas escolhi pegar no telemóvel quando queria captar algo, determinando um certo ângulo, momento e tempo. Por isto pareceu que a própria documentação
era parte da ação, porque efetivamente era.