4- Indagações sobre suporte e instrumento em teleperformance

  Evento Lapsus calami do dia 18 de maio de 2001, script autorado por Artur Matuck, tendo como interatores Artur Matuck e Yara Guasque pela câmera documento. Transmissão ponto a ponto entre a Univali e a Anhembi-Morumbi,  e simultaneamente pela internet para as salas multiusuário do iVisit. Participação pelo iVisit do grupo Corpos Informáticos da UnB sob coordenação de Bia Medeiros, e Janaína de Abreu Pereira do Perforum Desterro atuando pelo chat.

Na gravação de Daniel Seda em São Paulo, o quadro menor no canto inferior é a recepção em São Paulo da transmissão do Perforum Desterro. Vídeo editado por Yara Guasque em 2001 para apresentação em workshop do CHI 2002.

No evento a câmera enquadra o texto sendo reescrito. Artur lê em voz alta seu texto digitado enquanto o reescreve à mão, enfatisando a ação de ler e escrever como processos abertos temporais. Enquanto o interator é convidado a interferir ocasionando erros na reescritura. Yara indaga qual seria seu instrumento e suporte naquele momento.

Yara: Qual é seu instrumento de trabalho?

Artur: O lápiz, o papel.

Yara: Ou o sistema de telecomunicação?

Artur: O sistema de telecomunicação também!

Yara: Eu queria que você pensasse o que é o instrumento e o suporte agora.

[...] 

Depois o faz pensar sobre sua noção corporal na performance. 

Yara: Que corpo está atrás dessa fala?

A noção de presença corporal foi abordada mais claramente durante essa nossa última performance enquanto Perforum Desterro e Perforum São Paulo em maio de 2001.

A performance online se chamava Lapsus calami, um script de autoria de Artur Matuck com o qual interagi. Artur queria que minha interação o fizesse incorrer em erro. Na performance ele lia e sobrescrevia o texto digitado que criou e que era mostrado para a câmera. Minhas interferências pareciam insuficientes para comprometer seu controle. A atenção de controlar a ação para não incorrer em erros empobreceu sua consciência corporal durante o evento. Ao perguntar quais partes de seu corpo na ação tocavam o papel, a cadeira, foi quando minha interação irrompeu a redoma em torno de si que o "protegia" na performance. 

  Fazíamos uso da presença compartilhada em ambiente virtual, como as salas virtuais que mesmo com suas limitadas janelas no desktop serviam como “estações de encontros”, “arenas de socialização”. Era o que a tecnologia relativamente simples da videoconferência possibilitava: comunicação  dialógica e síncrona de imagem e de áudio.


  As experiências do Perforum enquanto presença mediada pela tecnologia se enquadravam dentre as categorias existentes como baixa telepresença ou presença social, devido a insatisfatória imersão e reduzida interação, que não exige fidelidade visual ou comandos telerrobóticos. Apesar de serem enquadradas como presença social eram relativamente complexas — por requererem agenciamento contínuo, reatividade em tempo real, engajamento social e comportamental e espelhamento não verbal — e imprevisíveis por ter em cada uma das pontas o elemento humano.