3- Experimentando criar com os delay

 

  Já entre 2000 e 2001 o Perforum Desterro tinha adquirido uma prática que o habilitou "conversar entre as imagens".

Experimentação entre o final de 2000 e início de 2001 com o delay das imagens em movimento e efeito estroboscópico no eco de vídeo das capturas das bolas do malabar. Michael Chapman, artista e ex-professor da FURG, que atuou como câmera do Perforum Desterro quando o grupo não era mais dirigido por Daniel Izidoro, e Bruno Rocha integrante do Perforum Desterro.


 

  O vídeo acima mostra a experimentação nos bastidores de Michael Chapman com a câmera de vídeo, duplicando lado a lado as capturas indiretas das imagens do malabar Bruno Rocha através dos monitores que disponibilizavam as imagens das câmeras fixas da sala de videoconferência. 

 

  O vídeo abaixo mostra a dançarina Gilsamara Moura em São Paulo respondendo à transmissão do movimento da cobra e das bolas do malabar em Florianópolis. A janela menor, no canto direito inferior, é transmissão da imagem por São Paulo para Florianópolis.

  A janela maior é a interação de Florianópolis como resposta sendo recebida em São Paulo. Interação essa marcada pela composição de objetos junto ao vídeo de entrada que era duplicado. O Perforum Desterro interagiu com a recepção da transmissão de São Paulo, criando com as multi telas uma suspensão entre os interatores. O aprendizado de "falar entre as imagens" era fato. No vídeo é perceptível o delay das bolas do malabar pelas velocidades diferentes dependendo do tipo de transmissão, ponto a ponto através do RDSI e videostreaming das salas multiusuários da internet como o iVisit, com atraso significativo.

Script de Maíra Spanghero com Gilsamara Moura de São Paulo da dança que interagiu com Bruno Rocha, o malabar, e Yara Guasque manipulando uma cobra de borracha em Florianópolis.





  Nesse dia 18 de maio de 2001 estavam telepresentes e interagindo com o Perforum Desterro e Perforum São Paulo, o grupo do CIMID, Centro de Investigações em Mídias Digitais do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica (COS) da PUCSP, e o grupo Corpos Informáticos da UnB em Brasília. E  em modo presencial outro formado por alunos do curso a distância da UNIVALI em Florianópolis.

  Experimentávamos qual imagem em movimento enviar na trasmissão com a alternância das câmeras fixa e móvel de enquadramento mais aberto e da câmera documento, que captava detalhes a curta distância. Sincronizávamos ainda a transmissão entre as imagens por diferentes canais,  ponto a ponto e as de videostreaming junto `as salas multiusuário do iVisit na internet.

  Nós do Perforum Desterro decidimos focar mais a recepção do que a transmissão, priorizando os registros de entrada. Dialogamos com o material recebido antes de devolvê-lo ao grupo Perforum São Paulo, compondo e interferindo nas imagens pixelizadas recebidas com delay. Nos interessava sobretudo a imagem impura, borrada pelas diferentes velocidades de transmissão, mediada pela estrutura de comunicação. Ao longo do tempo aprendemos com o controle das várias entradas de câmeras e a manipulação do codec, a dividir e multiplicar o sinal de entrada a partir da entrega do material, criando enquadramentos justapostos e um feedback com mais delay, ecos de vídeo etc. Esse espelhamento exercia forte atração sob os interatores do outro lado que se deleitavam quando sua autoimagem aparecia na tela. A atuação dos interatores nas performances em videoconferência era marcada pelo culto narcísico. 

  Os scripts eram negociados nas listas de discussão e fóruns online que criamos. Com os scripts compartilhados partíamos para a verificação da disponibilidade técnica e operacional da produção levantando os materiais. Na maioria das vezes tudo era fruto do contágio da interação, assim como o número de participantes que não era fixado. As jornadas de trabalho eram longas iniciando pela manhã os testes de câmera e iluminação, som, rede e depois do almoço, as performances que iam até noite adentro.

 
  Deixávamos na maior parte os participantes presenciais e telepresenciais muito livres para interagir  com os scripts. Artistas, performers, educadores, profissionais de comunicação, etc., em sua maioria estudantes das artes visuais e campos afins como literatura, teatro, dança, música, cinema e alguns de outros mais distantes como história, sociologia.
 

  Com a exceção do script de Daniel Izidoro não havia propriamente ensaios nas teleperformances do Perforum. O roteiro de O fantasma da tela  refletia a experiência de Izidoro com cinema e teatro prevendo no enquadramento, inclusive, a escala entre os objetos na cena. Como uma partitura rígida ainda dava coordenadas de interação a Chico Caprario e Celso Fonseca como interatores.