5- Metáforas

  Anos após o Perforum ter cessado com as teleperformances, entre 2004 e 2006, o grupo da UDESC Interações telemáticas que coordenei — composto pelos bolsistas PIBIC Fabian Antunes Silva, José Elias da Silva Júnior, e Luiz Haucke Porta — ficou incumbido da criação do site do Perforum como uma Web Art. Abandonei a perspectiva de análise de nossas performances como linguagem intermídia e o foco de seu uso telecnológico e preferi agrupá-las através de metáforas como alternativa de navegação não cronológica e linear das teleperformances no site. Para fins de organização do material audiovisual aglutinei os scripts do Perforum Desterro através de três metáforas: Telefagia, Libidoeconomia e Esquizolinguagens. Dessa forma eu evitaria que as teleperformances fossem editadas como um pós-script. O material de registro principal era o das teleperformances que aconteceram com interação em tempo real. Pois nossa interação se dava no diálogo da telerecepção. Os vídeos de registros das várias câmeras e os dos registros de making off eram apenas documentos paralelos que permitiam acesso parcial aos eventos. O site tratava da criação não mais de eventos, mas da publicação online de uma linguagem a partir do material coletado sobretudo da telerecepção das performances, imagens pixelizadas e com delay, e não da teletransmissão.

  Telefagia, a fantasia do colonizado tecnologicamente,  foi a primeira das três metáforas a ser desenvolvida. Caracterizava o comportamento predatório do ciberespaço. Seríamos esse outro tornado exótico, habitando um lugar feito para enganar os turistas, dependentes de tecnologias não inventadas por nós e condenados a permanecer para sempre enquanto consumidores. A metáfora Telefagia como uma atualização da antropofagia, como estética da involução diante das novas tecnologias, surgiu do episódio de Descobrimentos, uma das performances dos dias 18 e 19 de abril de 2000. 

Quando Laurette Pasternack do Perforum Desterro dá as boas vindas aos exploradores ao Admirável Mundo Novo: "Bienvenue dans le nouveau monde",  e cega a câmera com um dos espelhinhos. Os espelhos eram um dos objetos que os europeus presenteavam os ameríndios. Na performance o espelho ao cegar a câmera quebra a possibilidade de construção da representação impedindo que a câmera adentre a cena para perscrutar o “retratado”. 

A grande travessia, Laurette Pasternak e Grupo Fome junto a Perforum Desterro. 

Descobrimentos/Redescobrimentos. "O Brasil não conhece o Brasil", é samba de roda e de afoxé.

  Observando as negociações de afeto decorrentes das interações, em Libidoeconomia vi o corpo amalgamado no binômio produção/consumo como uma moeda dos fluxos das transações globais. As parcerias não são equivalentes e a acumulação de “capital” seja afetivo, cultural ou econômico privilegia alguns parceiros em detrimentos de outros.

  Já em Esquizolinguagens — que se dividia em linguagens verbais e não verbais  aglutinei as performances que notadamente tinham uma ruptura de significantes emergindo o emocional de maneira fragmentária. Esquizoescrituras, dando atenção às performances cujo protagonismo era a escrita e Esquizoperformances, com mais ênfase na linguagem corporal. Algumas vezes as perturbações eram de ordem técnica ocasionando descontinuidades, em outras, eram decorrentes da interação que não dava sustentação e retorno adequado ao outro parceiro.