O Corpo que Nunca Foi
(2025)
Giselle Hinterholz
Este projeto nasceu de um desconforto antigo, mas só encontrou forma quando o corpo — finalmente — começou a falar. Um corpo que, por anos, foi moldado pela obediência, pela culpa, pela contenção. Um corpo que serviu mais para agradar do que para existir.
O Corpo que Nunca Foi não é apenas uma instalação visual. É uma travessia. Cada moldura carrega fragmentos de uma história interrompida, silenciada, violentada — mas que, ao ser contada, transforma-se em matéria de resistência.
As peças não são ilustrações da dor. São gestos de enfrentamento. São corpos simbólicos criados a partir de camadas de memória, de experiências vividas, de feridas abertas e cicatrizes malformadas. Há nelas vestígios de abandono, de fuga, de abuso, de ausência de proteção. Mas há também outra coisa: o impulso de continuar.
O espaço onde as obras habitam — um ambiente branco, forrado como uma câmara asséptica — não é um lugar de pureza. É o contrário: é o lugar onde tudo o que foi considerado “sujo”, “impróprio”, “mentira” ganha finalmente forma e voz. Neste quarto simbólico, o que antes era invisível torna-se presença.
O projeto parte de histórias profundamente pessoais, mas oferece um espelho onde outras mulheres possam reconhecer as suas próprias trajetórias — sem medo, sem vergonha, sem a culpa herdada de séculos de silêncio. Aqui, a arte não quer consolar. Quer escancarar o que foi escondido, nomear o que foi abafado, e abrir espaço para outras existências possíveis.
Mais do que um processo de cura, este projeto é um rito de insurgência contra os mecanismos que perpetuam a dor como destino. Aqui, a matéria ferida se ergue como discurso.
Through Segments — Durchlässige Segmente
(2025)
Hanns Holger Rutz, David Pirrò, Ji Youn Kang, Daniele Pozzi
Through Segments is a sound installation in an unusual interstitial space—the staircase of the Kunsthaus’ Iron House that connects to the “Friendly Alien”. Four artists listen into the storeys using real-time computer algorithms, taking an acoustical image of the visitors’ movements, forming four individual reactions. It is a poetic attempt to think about the distributed, the fragmented, the parallel. During the development phase, the artists work independently, but at the same time they observe and interrogate each other, performing the gesture of a “simultaneous arrival” (Sara Ahmed). They enact a human algorithm, informed by reiteration and duplication but never being identical. The aim is not one “of all converging towards the same, but circulating, making common relaying, relaying back, being relayed” (Isabelle Stengers).